domingo, 11 de outubro de 2009

A colunista mais lida no Rio Grande do Sul revela seus segredos


Titular da tradicional página 10 da Zero Hora, Rosane de Oliveira conversou com a reportagem sobre o percurso que a levou a um dos postos mais cobiçados do jornalismo gaúcho. Ela comenta o cenário político do Rio Grande do Sul, a CPI da Corrupção e o pedido de impeachment da governadora Yeda Crusius. Nascida há 48 anos, na cidade de Campos Borges, Rosane dá uma lição de ousadia a comentar a difícil relação com as fontes e o denuncismo no jornalismo diário.

Public - Como foi teu inicio no jornalismo político?

Rosane de Oliveira – Bom, nunca tive a idéia de fazer jornalismo político. Caí nessa área meio que por acaso, porque eu tinha trabalhado em rádio e, quando reabriu o Correio do Povo, o (jornalista José) Barrionuevo, que era editor de política, estava formando a equipe dele. Ele me conhecia como redatora da Rádio Guaíba, depois repórter da Rádio Pampa, e me convidou para trabalhar na equipe dele no Correio. E eu fui. Se alguém da economia tivesse me convidado, ou da geral, teria ido da mesma forma. Então posso dizer que foi por acaso mesmo.

Public – Ter sido repórter da editoria de política e, hoje, ter uma coluna traz mais responsabilidade?

Rosane – É claro que ter uma coluna tem uma responsabilidade enorme, ainda mais uma coluna no jornal mais lido no Rio Grande do Sul. Tenho noção dessa responsabilidade, mas sempre trabalhei com a idéia de que a responsabilidade é a mesma em qualquer coisa que a gente faça. Nós, que publicamos informações sobre as pessoas, temos que saber o quanto destrutiva pode ser uma palavra. Por isso devemos ter cuidado com as palavras. Fui repórter muito pouco tempo na verdade. Hoje sou mais repórter do que no passado. Comecei como repórter, mas em seguida precisaram de uma editora. Como tenho jeito pra cozinha do jornal, logo fui promovida como editora e passei a ser responsável pela edição. Depois fiquei três anos na economia, porque precisaram de editor de economia no Correio e fui. Hoje é que me sinto mais repórter. Na verdade, uma coluna nada mais é do que um conjunto de minirreportagens que se faz todos os dias, com a diferença de que tenho um espaço que pode ser distribuído conforme o meu gosto. Posso fazer uma parte com informação, uma parte com interpretação e outra parte com opinião mesmo. Mas a responsabilidade é enorme. Qualquer coisa que a gente publica tem um impacto. E tem que se medir esse impacto. Não podemos nunca destruir a reputação de alguém. Temos que saber usar esse poder que a palavra tem.

Public - A Pagina 10 já foi alvo de criticas, acusada de partidarismo. Como convives com as críticas?

Rosane - Vou ser bem sincera pra ti: tem horas em que me divirto e tem horas em que me dá muita raiva. As pessoas são tão intolerantes aqui no Rio Grande do Sul. São tão passionais, que cada um lê o que quer nessa coluna. Poderia falar uma porção de cartas (que a coluna recebeu) completamente malucas. Pessoas que, lendo a minha coluna, juram que sou petista roxa, fanática pelo Lula, que ganho dinheiro do Lula. Tem gente que me acusa disso e, com a mesma coluna, tem gente que diz que brindo a Yeda, que a defendo, que sou fã dela. Dizem que estou fazendo campanha para (o governador de São Paulo José) Serra e que ganho dinheiro dele. Ganho dinheiro apenas da RBS. Tenho contrato de exclusividade, não tenho nenhuma atividade extra. Só trabalho para vários veículos da RBS. Então aprendi a conviver. Aprende a conviver com a crítica ou não se faz política, ainda mais no Rio Grande do Sul. Só que tem hora em que é tão exagerado. As pessoas andam tão ensandecidas, principalmente depois da criação do blog, que é uma coisa maluca. O que as pessoas me mandam é de deixar qualquer sujeito doido. É uma contradição em acusarem agora de defender a Governadora e depois de ser a maior algoz da Governadora. A coluna é a mesma apesar de as pessoas fazerem esses tipos de leitura. Isso me leva a concluir que o fanático, o torcedor dos partidos em geral, só lê aquilo que está na cabeça dele. Eles se projetam como se fossem um espelho. O que a gente escreve é lido conforme o que está na cabeça deles e não aquilo que se escreve.

Public – Como jornalista, tem uma posição distanciada em relação ao entendimento sobre as denúncias ao Governo?

Rosane – Não separo, como: a cidadã vê assim e a jornalista vê assado. Considero-me jornalista 24h por dia; não separo. Por isso, também não acho que seja possível um jornalista ser militante. Nunca fui militante de nenhum partido, nunca usei buttons de partidos e nunca vou usar enquanto estiver nessa área. Provavelmente, mesmo quando estiver velhinha, cultivando orquídeas, também não vou ser militante, porque de tanto conviver a gente não fica com nenhuma vontade de ser. Eu, a cidadã, penso da mesma forma que a jornalista. O que escrevo na coluna é o que penso. E o que converso no almoço de domingo com a minha família não tem diferença. O que penso objetivamente da CPI .

Public - Como analisas o cenário político hoje, com a CPI da Corrupção e pedido de impeachment da Governadora?

Rosane - O governo adotou uma estratégia completamente equivocada ao boicotar assessores da CPI. Se não queriam a CPI, tinham que ter impedido lá atrás, antes de ela ter sido instalada. Não impediu, deixou instalar e agora tudo que passa na sociedade é a idéia de que não querem a investigação. Ficar se agarrando no detalhe do regimento não resolve. Enquanto isso, a oposição está aproveitando o espaço para divulgar gravações constrangedoras, para tornar publico aquilo que o governo não quer que se torne. Tenho um pé atrás com as CPIs em geral, porque elas têm uma capacidade muito limitada de investigação. O deputado não tem preparo para investigar como a Polícia Federal, o Ministério Público ou a Polícia Civil. Então o grande mérito das CPIs é tornar público aquilo que muitas vezes se quer esconder. Acredito na CPI como instrumento de investigação? Não, ela é política. Todas as CPIs são políticas. E quem quer a CPI não é o governo. Não conheço nenhum governo que diga: oba, quero uma CPI. Sempre são os governos que tentam impedir. O Lula tenta impedir em Brasília e a Yeda tenta impedir no Rio Grande do Sul. E quando não conseguem, fazem essas marolas para boicotar. O impeachment é prematuro. Esse pedido tinha que ser apresentado depois das conclusões dos trabalhos da CPI. Por enquanto, temos uma ação de improbidade que está correndo na Justiça, que tem seu tempo e um impeachment não pode ser banalizado. Como instrumento, ele tem que ser adotado, quando realmente é a última barreira a cair. Não temos, ainda, algo que se configure uma confirmação de que a Governadora é realmente culpada, que cometeu o crime de responsabilidade e tem que ser afastada. Há uma série de indícios que precisam ser investigados.

Public – Achas que a política gaúcha vem sofrendo uma onda de denuncismo?

Rosane – Acho que não é denuncismo. O que aconteceu foi que durante muito tempo o RS cultivou em si mesmo uma imagem equivocada: somos os melhores, falcatrua só existe em Imanpituba pra cima, nós somos os bons. E, nos últimos tempos, com aperfeiçoamento dos mecanismos de investigação, a Polícia Federal (PF) e o Ministério Publico Federal (MPF) mais efetivos, se começou a perceber, que, não, o que existe nos outros estados também existe aqui. Muitas coisas que, antes iam para baixo do tapete, começaram a vir à tona. As pessoas perguntam por que jornalistas investigativos não fazem isso (investigações). Porque não temos os mecanismos que a PF e o MPF tem. Duas coisas fundamentais para o esclarecimento de denuncias não temos: a quebra de sigilo bancário fiscal e a quebra de sigilo telefônico. Então não vai esperar que possamos substituir a PF e o MPF. Há uma exacerbação dos ânimos para que as coisas sejam apuradas. As pessoas julgam, condenam e expõem em praça pública. Há essa coisa nos partidos gaúchos de que a oposição quer arrasar quem está no poder. Foi assim com o PT e hoje está acontecendo a mesma coisa nesse governo.

Public - Qual a sua opinião sobre jornalismo político praticado no Estado?

Rosane – Quero falar mais por nós (Zero Hora). Fazemos um jornalismo de muita responsabilidade. Não fazemos um jornalismo de quem a torcida gostaria. Não jogamos para a torcida. A torcida dos partidos, um gostaria que nós falássemos mal do outro e vice-versa, então nós temos a preocupação de tratar as coisas com equilíbrio dar os dois lados, embora sabendo que sempre vai ser criticado pelos dois lados e que seremos taxados hora esta defendendo esse hora esta sendo contra o governo. Então a gente na chuva é para se molhar. Nós aqui na RBS temos essa definição, nossos repórteres todos ao entrarem todos para editoria eles assumem um compromisso de não militarem em partido nenhum e se alguém quiser militar em alguma campanha é convidado a mudar de ramo, por que na política não tem lugar para eles.

Public – Como todo o jornalista há fontes. Como é a tua relação com as tuas fontes, principalmente na área do jornalismo político?

Rosane – No jornalismo político fonte é a palavra chave é fundamental, fonte credibilidade, independência, são as minhas palavras de estimação aqui. A gente tem que ter muito respeito, por que as principais informações que a gente recebe pra coluna elas são de fontes que não querem aparecer, por alguma razão não querem ou não podem, então o off funciona muito em coluna e se a gente fizer um jornalismo dito declaratória, que as pessoas te dizem gravando a chance de tu fazer o oficia mesmo é muito grande. Então para ti ter as informações de bastidores que é o que torna a coluna interessante, tu precisa ter fontes que confiem em ti, fontes em off. Hoje a gente enfrenta um problema muito sério em relação as fontes que é a sensação de que todo mundo se sente grampeado, então antigamente tu conseguia ter uma conversa com alguém pelo telefone tranqüilamente, hoje todo mundo se dana de medo de estar grampeado, então as pessoas se seguram muito, o que tornou bastante difícil o nosso trabalho. Mas mesmo assim eu tenho uma relação de muito respeito com as minhas fontes, nenhuma proximidade, assim, que eu convidaria para um batizado ou aniversário dos meus filhos, cada um na sua. Minhas fontes não são meus amigos, são minhas fontes e eu as respeito.

Public – Com as eleições chegando, é provável que já tenha movimentação para as campanhas. Tem alguma diferença na hora de pensar a coluna?

Rosane – As eleições deste ano vai ser uma das mais difíceis de se cobrir, por que como se criou vários canais de interatividade, então as pessoas vão usar muito isso para pressionar os jornalistas, se passar por leitor comum e na verdade é assessor postando comentário em blog fazendo cobrança, então eu acho que nessa eleição vai ser bem difícil lidar, por que é obvio que cada um tem, que usar o espaço que puder e eu acho, que os partidos e os candidatos vão usar muito esses espaços de interatividade. E a o risco de tornar a nossa vida meio inadministrável, por que isso, por que esses comentários postado em blog no final é de nossa responsabilidade, você pode acabar escutando que estão vetando ou censurando, mas é por que no fim quem se responsabiliza pelos comentários somos nós e precisamos ter critérios para evitar que quem faz a acusação que é uma acusação de calunia de injuria contra alguém a gente tira ou tenta tirar, mas as vezes pode se tornar uma avalanche tão grande que acaba algum escapando, mas o nosso critério é tentar evitar isso.

Public - Como é ser uma editora, colunista, apresentadora e comentarista da RBS?

Rosane – É acima de tudo uma loucura, nem eu sei bem como é administrar tudo isso pergunta para os meus filhos e eles vão dizer que é um horror, que eu sou uma mãe meio ausente, por que exige que eu fique muitas horas aqui. Mas consigo administrar tudo razoavelmente bem, o que tem me dado mais preocupação é o blog, por que primeiro eu não consigo dar ele a atenção que eu deveria por que eu não tenho tempo e o leitor de blog faz uma cobrança como se eu tivesse que ficar 24h por dia ali atualizando as informações, liberando comentários, trocando idéias, e para mim isso é humanamente impossível, então eu tenho que eleger prioridades, que são: a rádio gaúcha, eu sou apresentadora de um dos programas que tem maior audiência no rádio do RS, essa é a minha prioridade de manhã, a tarde é preparar a Pagina 10 que tem índice de leitura e tem um índice de responsabilidade que não da para fazer nas coxas, minha principal responsabilidade à tarde e a noite é ao jornal e a noite eu tenho, que estar preparada para fazer o comentário na TV e o blog eu faço nos intervalos e, portanto é claro ele não é a minha prioridade, e não é a coisa mais importante que eu faço, ainda acho que o jornal impresso tem muito mais peso.